quarta-feira, 31 de julho de 2013

Arthur Rimbaud

CIDADE
Sou um cidadão efêmero e não de todo descontente de uma metrópole tida por moderna porque o gosto geralmente aceito foi evitado no mobiliário e exterior das casas, e bem assim no plano da cidade. Aqui não encontrareis traços de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua reduzidas, afi­nal! à sua mais simples expressão. Esses milhões de pessoas, que não têm necessidade de se conhecerem, conduzem a educação, o trabalho e a velhice de maneira tão paralela que as loucas estatísticas concluiriam que seu curso de vida só pode ser várias vezes inferior ao do encontrado para os povos do continente. Assim [como], de minha janela, vejo espectros novos rolando através da espessa e eterna fumaça do carvão, — nossa sombra dos bosques, nossa noite de verão! — novas Erínias, diante do meu chalé que é minha pátria e todo o meu coração já que tudo aqui se parece com isto, — a Morte sem lágrimas, nossa ativa filha e criada, um Amor desesperado, e um bonito Crime piando na lama da rua.
(Iluminações)

In Prosa Poética, trad. Ivo Barroso, 2a. ed. rev., Rio de Janeiro, Ed. Topbooks, 2007,  p. 241


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