DAVID E JÔNATAS*
Na Bíblia estamos escritos
Num abraço de cores vivas.
Mas os nossos jogos de meninos estão
Vivos também na nossa
estrela.
Eu sou David,
Tu, o meu companheiro de brinquedos.
Ah, os dois tingíamos de vermelho
Os nossos corações brancos
de carneiro!
Como as flores em botão nos salmos do amor
Sob o céu de um
dia de festa.
Mas os teus olhos de despedida, os teus olhos —
Estás sempre
a despedir-te no silêncio do beijo.
E o teu coração, que fará
Ainda sem o meu?
A tua noite doce
Sem as minhas canções?
* I Samuel, 18.
[In Baladas Hebraicas, tradução e apresentação de João Barrento, Lisboa: Assírio & Alvim, 2002, p. 69].
NO PRINCÍPIO
Suspensa de uma nuvem de ouro de primavera,
Quando o mundo
era ainda uma criança
E Deus ainda tão jovem, e já pai.
Baloiçava, e ai!
Pelo éter ela vai,
Os cabelos de lã brilhando em rodopio.
Brincava com o trôpego avô-sol,
Depenicava prata da mãe-lua,
Tranquei Satanás lá no céu
E Deus no inferno fumegante.
E eles ameaçavam-me com o dedo maior,
E davam murros na porta: Bum, bum!
E as chicotadas dos ventos sibilavam;
Mas depois Deus, com o diabo, deu duas gargalhadas
Trovejantes, rindo do meu pecado mortal.
Daria a 10000 na terra felicidade
Para voltar a viver
nascida assim de Deus,
Assim a salvo em Deus, assim sem véus.
Assim,
Como quando era ainda a menina traquinas de Deus!
[In Baladas Hebraicas, tradução e apresentação de João Barrento, Lisboa: Assírio & Alvim, 2002, p. 91].
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