sexta-feira, 19 de julho de 2013

Olga Savary

Gazel I
De amor, criei (incriado) 
este jardim secreto 
de rosas fechadas em seu tédio 
e espero
aquele que virá e há de decifrar 
hieróglifos de ternura desenhados 
pela lua em meu corpo - seu legado.

O amado pedirá em minha boca 
o segredo desvendado a todas as perguntas. 
Eu lhe responderei sem palavras 
mas com o perigoso silêncio parecido 
ao rumor da água caindo
sem cessar.

Belém, julho 1953

Gazel II
Chamo-te-, Amado 
com voz abstrata
alongada no jardim onde me esqueço 
sob a lua porque verta em minha forma 
o sortilégio dessa cor fantástica 
com que esperar-te.

Chegas e há fugas 
de sombras e silêncios eleitos 
para teu alto redor.

Vais: foge contigo 
o vento levando os últimos sons 
de folhas machucadas e na relva 
meu corpo ainda
iluminado.


Belém, julho 1953

Sobre Olga Savary

In Repertório Selvagem, Obra Reunida, Rio de Janeiro: MultiMais editorial, 1998, p. 34-35

Alba Lavermicocca

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