ROSTOS PARA ANTONIO SAURA, 1987 (Excerto)
... esse mundo tem um rosto: o
nosso.
Vira, para mim, teu rosto.
O universo é, de verdade, tão
pequeno?
O rosto envelhece com o nome já
velho.
Estrangeiro. E tanto tenho
errado. E, quantas vezes, reedificado?
Que tenho eu, ah, dizei, vós que
me conhecestes, que tenho eu guardado para mim?
Absolutidade do Nada.
Tivéramos nossos reis.
Mas esses reis estão mortos.
Tivéramos nossos príncipes.
Mas esses príncipes pereceram.
Tivéramos nossos sábios.
Mas, sábios, eles viraram a página de sua vida.
Fôramos um povo.
Mas esse povo se dispersou.
Somos o livro,
no coração do incêndio.
Com as chamas que, uma noite,
lamberam nossos livros, pintaremos, sobre cada guarda-fogo, um rosto vivaz.
In DESEJO DE UM COMEÇO, ANGÚSTIA DE UM SÓ FIM, A MEMÓRIA E A MAO - UM OLHAR, São Paulo, Lumme Editor, trad. Armanda Mendes Casal & Eclair Antonio Almeida Filho, 2013, p. 138
ANTONIO SAURA |
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