Pediste luz
Mas o que realmente
Te terá trazido esse dia?
O enigma ecoa numa voz antiga.
Existência monástica a tua,
De atirar-se ao sumo do mínimo.
Convicção de teu corpo
De que pela mente melhor se caminha.
(Houve luz nesse dia?)
As paredes, cansadas de estar sempre hirtas, ruíram
Se querias abrigo, que tuas mãos te cobrissem.
(Mas na luz o que viste?)
De súbito mais nada era teu.
A selvageria das horas
Arrebatou os teus poucos requintes,
Livrou-te dos desperdícios.
Os ponteiros retrocediam.
De vidas perfeitas, que te restava?
Das plantas, seu látego, dos porcos, sua pocilga.
Uma peste de rosas, antúrios e orquídeas.
In Fazer Silêncio, São Paulo, Iluminuras, 2005, p. 31
![]() |
Hilda Hilst, por Jotta Pinheiro |
Nenhum comentário:
Postar um comentário