Vês acordada como em sonho
o sonho mau tal fosse belo
- o belo horror do real
que nem consciência nítida
ou lúcida, clara, exata -,
não como é visto sol a pino
e sim através do fogo
ou através da água,
como quem vê dentro do mar
ou através de um vidro fosco,
mais, no fundo de um espelho,
não o que mostra a imagem
mas aquele que a deforma
inteiro fora de foco.
OUTRA CENA
Sentada estavas quando ele entrou
seguido de uma princesa ou uma serpente.
Só sabes que teu rosto não mudou
mas em turvo mudou-se o transparente
riso de antes, pesados os gestos.
Viraste uma mulher que, acordada
e de frente, vê um sonho mau
se sonho e distante já nem sente
e que já não amando é como se amasse
e, perdido o amor, é como se o tecesse.
Rio de Janeiro, 6 maio 1978
In Éden-Hades, In Repertório Selvagem, Obra Reunida, Rio de Janeiro: MultiMais editorial, 1998, p. 292-293.
Madame Brassai |
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