Na biblioteca
O que não pode ser dito
guarda um silêncio
feito de
primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiadamente tarde,
quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros
alexandrinos.
Na biblioteca, em cada livro,
em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a
casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,
as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos
deuses.
Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
o poema
está só.
E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta.
In Cuidados Intensivos, In Todas as Palavras Poesia reunida, 3a. ed, Porto, Assírio & Alvim, 2013, p. 181.
Monumento ao Livro- Barcelona |
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