quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Rainer Maria Rilke

Fim de Outono em Veneza
A cidade sem luz já não é mais o anzol
pescando à beira-mar o dia renascido.
Os palácios de vidro emitem um sonido
mais quebradiço aos olhos. Dos jardins, o sol,

penca de marionetes em um fim da festa,
pende, exaurido, morto, de ponta-cabeça.
Mas da raiz dos esqueletos da floresta
cresce um querer: assim, durante a noite espessa,

no arsenal em vigília ordena o comandante
redobrar as galés, para que a sua frota
possa cobrir de breu a brisa da alvorada

com os remos que vão abrindo a sua rota,
e súbito, as bandeiras todas em parada,
recebe o grande vento, lúgubre e radiante.

In Augusto de Campos, Coisas e Anjos de Rilke, São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 259


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