PARIS,
SETE DA MANHÃ
Viajo a
cada um dos relógios do apartamento:
histriões,
alguns ponteiros indicam uma direção,
alguns a
outras, a partir de seus ignorantes rostos.
O tempo é
uma Etoile; as horas divergem tanto
que os dias
são travessias ao redor dos subúrbios,
círculos ao
redor de estrelas, círculos que se sobrepõem.
A pequena
escala demi-ton dos climas do inverno
é uma asa
de pombo aberta.
O inverno
vive sob a asa de um pombo, de um pombo morto e com
[as plumas
viscosas.
Olhe para
baixo, no pátio. Todas as casas
estão
construídas assim, com urnas ornamentais
no cimo das
mansardas onde os pombos
passeiam. É
como introspecção
o olhar
para o interior, ou como retrospecção,
uma estrela
dentro de um retângulo, uma recordação:
este
quadrado vazio poderia ter estado lá.
— Os fortes
de neve da infância, erigidos em invernos mais
[brilhantes,
poderiam
ter assumido esta proporção e converter-se em casas;
os
poderosos fortes de neve de quatro ou cinco andares,
se
resistissem à primavera como os de areia às marés,
seus muros,
sua forma, não se teriam dissolvido e morto,
mas somente
teriam um se sobreposto ao outro, tornados pedras,
agora
acinzentados e amarelecidos como são as pedras.
Aonde as
munições, as bolas de canhão em pilhas,
com seus
corações de gelo como estilhaços de estrelas?
Este céu
não é um pombo-correio-guerreiro
que sabe
safar-se da intersecçâo de intermináveis círculos.
É um céu
morto, ou o céu do qual caiu um pombo morto.
Suas
cinzas, ou plumas, estão guardadas nestas urnas.
Quando se
fundiria a estrela, ou teria ela sido capturada
pela sequência
de quadrados e quadrados, de círculos e círculos?
E os
relógios, saberão? Estará a estrela lá embaixo,
a ponto de
despencar sobre a neve?
Bishop,
Elizabeth. Poemas. tr. e intr. de Horácio Costa, São Paulo, Companhia das
Letras, 1990, pp. 51-53
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