ODE AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO DO ALTAR
(FRAGMENTO)
(Homenagem a Manuel
de Falla)
exposição
Pange lingua gloriosi
corporis misterium.
Cantavam as
mulheres pelo muro cravado
quando te vi, Deus forte, vivo no Sacramento,
palpitante e despido, como um petiz, que corre
perseguido por sete novilhos
capitais.
Vivo estavas Deus meu, dentro do ostensório.
Picado pelo teu
Pai com agulha de lume.
Palpitando como o pobre coração da rã
que os médicos
põem dentro do frasco de vidro.
Pedra de solidão onde a relva se lamenta
e onde a água
escura perde seus três acentos,
elevam-te a coluna de nardo sob a neve
sobre o
mundo de rodas e falos que circula.
Eu fitava tua forma aprazível boiando
na ferida de azeites e
pano de agonia,
e virava meus olhos para darem no doce
tiro ao alvo de insônia
sem um pássaro negro.
É assim, Deus passageiro, que te quero ter.
Pandeirinho de
farinha pro recém-nascido.
Brisa e matéria juntas em expressão exata,
por amor à carne
que desconhece teu nome.
É assim, forma breve de rumor inefável,
Deus em mantilhas, Cristo diminuto e eterno,
repetido mil
vezes, morto, crucificado
pela impura palavra do homem sudoroso.
Cantavam as mulheres na arena sem ter norte,
quando te vi
presente sobre teu Sacramento.
Quinhentos serafins de resplandor e de tinta
teu
racemo no domo neutro saboreavam.
Oh! Forma Sacratíssima, vértice das flores,
onde os ângulos
todos tomam suas luzes fixas,
onde número e boca constroem um presente
corpo de
humana luz com músculos de farinha!
Oh! Forma limitada para expressar concreta
multidão de luzes
e de clamor percebido!
Oh! neve circundada por timbales de música!
Oh! chama
crepitante sobre todas as veias!
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