quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Konstantínos Kaváfis

ARISTÓBULO
Chora o palácio, chora o rei, 
inconsolável, o rei Herodes lamenta-se; 
a cidade inteira chora por Aristóbulo 
que tão injustamente se afogou, por acaso, 
brincando com seus amigos na água.

E quando o souberem também nas outras regiões,
quando na Síria se divulgar,
mesmo entre os gregos muitos sentirão;
quantos poetas e escultores estarão de luto,
pois Aristóbulo era famoso entre eles,
e qual de suas visões sobre adolescente
alcançou um dia uma beleza tal como a deste rapaz;
qual estátua de deus Antioquia conseguiu
como este filho de Israel?

Lamenta-se e chora a Primeira Princesa: 
sua mãe, a mais importante hebreia.
Lamenta-se e chora Alexandra pela calamidade. - 
Mas quando se acha só, ela muda sua dor.
Geme; enfurece-se; insulta; amaldiçoa.
Como a enganaram! Como a iludiram!
Como finalmente se realizou o objetivo deles! 
Destruíram a casa dos Asmoneus.
Como o conseguiu o rei criminoso: 
o astuto, o perverso, o celerado.
Como o conseguiu! Que plano infernal 
para que mesmo Mariana nada percebesse!

Se Mariana tivesse percebido, se tivesse desconfiado, 
teria achado um meio de salvar seu irmão;
é rainha enfim, alguma coisa poderia fazer.
Como devem estar triunfantes agora e como se regozijarão secretamente
aquelas perversas, Cipro e Salomé;
as mulheres abjetas, Cipro e Salomé. -
E estar ela impotente, e forçada
a fingir que crê em suas mentiras;
não poder dirigir-se ao povo,
sair e gritar aos hebreus,
dizer, dizer como ocorreu o assassinato.
é rainha enfim, alguma coisa poderia fazer.
Como devem estar triunfantes agora e como se regozijarão secretamente
aquelas perversas, Cipro e Salomé;
as mulheres abjetas, Cipro e Salomé. -
E estar ela impotente, e forçada
a fingir que crê em suas mentiras;
não poder dirigir-se ao povo,
sair e gritar aos hebreus,
dizer, dizer como ocorreu o assassinato.

[Poemas de K. Kaváfis, São Paulo, Ed. Odysseus, 2006, trad. de Ísis Borges da Fonseca, p. 207-209]. 




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