A LANTERNA
LÁ FORA
Às vezes,
no meio da noite move-se uma lanterna
Que atrai nosso olhar. Quem vai lá? quem
a conduz?
Fico pensando, meditando de onde e para quê e aonde,
De quem, escuridão adentro, a tateante luz?
Por mim
passam os homens, cujo brilho e beleza
De índole ou de mente, ou do que seja,
torna-os raros;
E, até que a morte ou a distância os trague, esparzem
Em
nosso denso ar palustre ricos raios.
Distância
ou morte cedo os consome. E se perdem,
No fim, de todo o revolver de minha vista a persegui-los
Em
vão — e, longe dos olhos, longe do coração.
Perto do
coração de Cristo, cujos passos os seguem —
Seu olhar e cuidado amoroso em confirmá-los, corrigi-los —
Fiel primeiro e último amigo, resgate, salvação.
BELEZA
MATIZADA
Glória a Deus pelas coisas de cor variada —
Céu pintalgado, como novilha malhada;
Pintas-rosas
salpicando a truta que nada;
Castanhas que caem, como carvões-em-brasa;
Asa de pintassilgo; paisagem de vária
Nuance — terra de
aprisco, arada, baldia;
Ofícios do homem, sua equipagem e indumentária.
Tudo que é raro, original, estranho, oposto;
Variável,
variegado (por que o seria?) —
Lesto, lento; doce, azedo; faiscante, fosco —
Aquele
cuja beleza é imutável os cria:
Louvai-o.
In Poemas, trad. e introd. de Aíla de Oliveira Gomes, São Paulo, Companhia das Letras, 1989, pp. 91 e 95
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