se eu voltar será vestida de clarões em honra à morte mais doce pela regra das rosas secas e dos anjos mistos de hera e de sangue caídos à tua porta em vértice dilatado como um cálice suspenso sobre os teus cabelos cor de lírios com cheiro a chuva. se eu voltar entre as rugas da tua boca será para te ser um monólogo de facas e um sopro de vinho quente a escorrer-te nos flancos onde me farás nua como um espinho de ouro crucificando-te a garganta. e nada de muralhas nada de estrelas nada de barcos nada de portos. tudo em sílabas calcárias e ácidas e morrentes aos teus pés.
se eu voltar será apenas uma herança de silêncio ou de papel rasgado sobre a cama que nunca desfizemos mas asfixiamos. lúcidos loucos devotos e predadores. restam as aves e o cardo mais rosa que um dia te vi nascer ao som de todas as vertigens. se eu voltar será por vontade das feras. mas o tempo é de cúpulas líquidas paralelas ao gesto de desfazer o rochedo. toma as minhas mãos. como precipícios. um dia o rosto será archote. e eu não volto.
(Isabel Mendes Ferreira - Inédito, publicado com licença da autora)
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