Ideia Fortíssima
Uma ideia fortíssima entre todas menos uma
Habita meu
cérebro noite e dia,
A idéia de uma mulher, mais densa que uma forma.
Ideia que me acompanha
De uma a
outra lua,
De uma a outra caminhada, de uma a outra angústia,
Que me arranca do tempo e
sobrevoa a história,
Que me separa de mim mesmo,
Que me corta em dois como o
gládio divino.
Uma idéia que anula as paisagens exteriores,
Que me provoca terror e febre,
Que se antepõe à pirâmide de órfãos e miseráveis,
Uma idéia que verruma todos os
poros do meu corpo
E só não se torna o grande cáustico
Porque é um alívio
diante da ideia muito mais forte e violenta de
[Deus.
Companheira
Companheira, dou-te as sombras que me acompanham,
Todas as
sombras criadas pelos vivos.
Companheira, dou-te a alegria
Do que nada tem a esperar do
esforço humano.
Dou-te a cantiga do asilado,
O suspiro do menino que olha em vão
O velocípede do menino
vizinho.
Dou-te a nostalgia de quem soltou papagaio
Em épocas muito
remotas.
Companheira,
Dou-te a tristeza do que nada achou na sua primeira
comunhão.
Dou-te o desconsolo do que está sendo destruído
Pelos crimes que não
cometeu,
Pelos crimes de outros em época
distante.
Pastoral
Traze a sandália e o bordão para passearmos no campo sereno.
Somos contemporâneos de raças extintas,
Viemos de torres golpeadas e de
hóstias profanadas.
Até que desçamos para os rios
invisíveis
Convém dançar entre os humanos, comer o pão e o mel.
Os imortais nos aguardam nas
esferas da música:
Muitos pássaros, muitas luas viajantes têm nostalgia de nós.
Esquadrilhas de mitos são enviadas para nos protegerem.
Hospedamos companheiros
imprevistos,
O Máscara de Ferro, Nosferatu,
Ou então a Órfã do Castelo Negro.
As fontes esperam nosso sinal
para murmurarem,
E os germes da peste se contêm
ante a nossa benção.
Paz aos corpos insaciados de
amor, aos membros genitais em delírio:
Suspendei de novo no azul a gaiola dos anjos,
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