sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Paul Celan

PRESSÃO DA LUZ (1970)

UMA VEZ, a morte era corrente,
tu te escondeste em mim.

o0o

PRÉ-CIENTE SANGRA
duas vezes atrás da cortina,

Consciente
pérola

o0o

QUANDO ME ABANDONEI EM TI, 
eras pensamento,

algo
murmura entre nós dois: 
do mundo a primeira 
das últimas
asas,

em mim cresce
a pele sobre
tempestuosa
boca,

tu
não chegas
até
ti.

o0o

COMO TE EXTINGUES em mim:

ainda no último
e gasto
nó de ar
estás lá com uma
faísca 
de vida. 

o0o
OS DESAPARECIDOS
papagaios-cinza
rezam a missa
em uma boca.

Ouves chover
e achas que também agora
seria Deus.

In CRISTAL, trad. Cláudia Cavalcanti, São Paulo, Iluminuras, 2011,pp. 137-145

richard toveen




Nenhum comentário:

Fernando Paixão

  Os berros das ovelhas  de tão articulados quebram os motivos.   Um lençol de silêncio  cobre a tudo  e todos. Passam os homens velho...