XXXVII
Ó Zenóbia, augusta rainha,
pergunto pelas caravanas
dos
mercadores de tâmaras
seus lerdos tardos camelos
cargas de almíscar
e sedas
entre montanhosas corcovas.
(Embalde caçar
na areia
os traços desses rastros)
O Zenóbia, augusta rainha,
pergunto pelos exércitos
de
aguerridos soldados
seus lépidos cavalos bravos
sustentando justas lutas
contra
o império romano.
(A poeira apagou as pegadas
e manchas de muito sangue)
O Zenóbia, augusta rainha,
não mais correm as moedas
que um
dia cunhaste em
atitude de sã rebeldia.
Neste deserto de Palmira
tão eixo e coração da Síria
até a
necrópole está vazia.
Nas nobres torres funerárias
e hipogeus desertos sequer
os
ossos testemunhos de gente.
Ó Zenóbia, augusta rainha,
os ovos que auguram a
vida
em tantos baixos-relevos
jamais romperão das cascas.
Agora tudo o que em teu chão
pulsa e corre são as
negras
veias de petróleo irrigando
remotos aglomerados de homens
onde carros
mecânicos correm
em vez de camelos e cavalos.
O sangue contudo escorre
em outros corpos e guerras
brutas
e novo comércio ora se faz
com moedas recém-cunhadas.
O Zenóbia, augusta rainha,
atores novos em cenário insólito
bisamos a velha História.
In Torna-Viagem, In De déu em déu - poemas reunidos (1979-1994), Rio de Janeiro: Sette Letras, 1998, p. 127-128.
Zenobia Harriet Hosmer |
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