NOITE ESCURA
Eras tu atravessando o semáforo de sinal
fechado
entre noite e neblina? Bem sei que não mudas apenas
o jeito dos cabelos
e o modo de acentuar os olhos
e nem é só outro o vestido de tua feminilidade
ou
tua força contida de homem e de sol.
Não é a lua que altera teu humor
nem os
móveis que te circundam
e o jardim nu ou com flor.
Mas é meu o medo de não reconhecer-te
ao
dobrar a esquina, ao virar para o outro lado
na cama fixando a mancha na
parede.
É a hora do medo que antes de mim desapareças
deixando a dúvida de tua prisão ou morte.
Partiste sem deixar bilhete.
Foste todas as coisas esplêndidas
e as banais: Deus e a rua
a folha e o pó. Chamo-te de muitos nomes
e a nenhum respondes. Procurei nos muros
(em vão)
o grafito de tua morte. Continuarei
chamando
não a Deus (que as palavras violentam)
mas o Poema entre noite e neblina
e principalmente te suplico:
não morras antes de mim.
In Poesia Reunida, Rio de Janeiro, Ed.
Topbooks, 1999, pp. 337-338.
SERVANDO CABRERA MORENO |
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