sábado, 26 de outubro de 2013

Dora Ferreira da Silva

NOITE ESCURA
Eras tu atravessando o semáforo de sinal fechado 
entre noite e neblina? Bem sei que não mudas apenas 
o jeito dos cabelos e o modo de acentuar os olhos 
e nem é só outro o vestido de tua feminilidade 
ou tua força contida de homem e de sol.
Não é a lua que altera teu humor 
nem os móveis que te circundam 
e o jardim nu ou com flor. 
Mas é meu o medo de não reconhecer-te 
ao dobrar a esquina, ao virar para o outro lado 
na cama fixando a mancha na parede.
É a hora do medo que antes de mim desapareças 
deixando a dúvida de tua prisão ou morte.
Partiste sem deixar bilhete.
Foste todas as coisas esplêndidas
e as banais: Deus e a rua
a folha e o pó. Chamo-te de muitos nomes
e a nenhum respondes. Procurei nos muros (em vão)
o grafito de tua morte. Continuarei chamando
não a Deus (que as palavras violentam)
mas o Poema entre noite e neblina
e principalmente te suplico:
não morras antes de mim.

In Poesia Reunida, Rio de Janeiro, Ed. Topbooks, 1999, pp. 337-338.


SERVANDO CABRERA MORENO

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