segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Ruy Belo

I
QUASI FLOS
A morte é a verdade e a verdade é a morte

Tão contente de vento, ó folha que nomeio 
como quem à passagem te colhesse, 
palavra de que tu, ó árvore, dispões para vir até mim 
do alto da tua inatingível condição

De muito longe vinda, inviável lembrança 
indecisa nas mãos ou consentida 
por alguma impossível infância 
E a alegria é uma casa recém-construída

Face melhor de todos nós, ó folha
dos álamos nocturnos e antigos visitados pelo vento,
no calmo outono, o dos primeiros frios, sais
do ângulo dos olhos, acolhes-te ao poema
como no alto mês de maio a flor imóvel do jacarandá

Não há outro lugar para habitar
além dessa, talvez nem essa, época do ano
e uma casa é a coisa mais séria da vida

(O PROBLEMA DA HABITAÇÃO - Alguns Aspectos)

In Todos os Poemas, Lisboa, Assírio & Alvim, 3a. ed., 2009, p. 139.


Pyotr Konchalovsky

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