TRÊS RETRATOS COM SOMBRAS
VERLAINE
A canção,
que nunca direi,
adormeceu em meus lábios.
A canção
que nunca direi.
Entre as madressilvas
havia um vaga-lume,
e a lua feria
com um raio a água.
Então eu sonhei
com a canção
que nunca direi.
Canção cheia de lábios
e de álveos distantes.
Canção cheia de horas
perdidas na sombra.
Canção de estrela viva
sobre um perpétuo dia.
Entre as madressilvas
havia um vaga-lume,
e a lua feria
com um raio a água.
Então eu sonhei
com a canção
que nunca direi.
Canção cheia de lábios
e de álveos distantes.
Canção cheia de horas
perdidas na sombra.
Canção de estrela viva
sobre um perpétuo dia.
BACO
Verde rumor
intacto.
A figueira me estende os braços.
Como uma pantera, sua sombra
espreita a minha lírica sombra.
A lua conta os cachorros.
Como uma pantera, sua sombra
espreita a minha lírica sombra.
A lua conta os cachorros.
Equivoca-se e começa de novo.
Ontem, amanhã, negro e verde,
rondas meu cerco de lauréis.
Quem como eu te quereria,
se me mudasses o coração?
... E a figueira grita para mim e avança
terrível e multiplicada.
Ontem, amanhã, negro e verde,
rondas meu cerco de lauréis.
Quem como eu te quereria,
se me mudasses o coração?
... E a figueira grita para mim e avança
terrível e multiplicada.
JUAN RAMÓN JIMÉNEZ
No branco infinito,
neve, nardo e salina,
perdeu sua fantasia.
A cor branca anda
sobre um mudo tapete
de penas de pomba.
Sem olhos nem ademã
imóvel sofre um sonho.
neve, nardo e salina,
perdeu sua fantasia.
A cor branca anda
sobre um mudo tapete
de penas de pomba.
Sem olhos nem ademã
imóvel sofre um sonho.
Mas treme por dentro.
No branco infinito,
quão pura e longa ferida
deixou sua fantasia!
No branco infinito.
No branco infinito,
quão pura e longa ferida
deixou sua fantasia!
No branco infinito.
Neve. Nardo. Salina.
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