quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Henry Miller

Excerto de "A hora dos Assassinos"
Os signos e símbolos que o poeta usa constituem uma das provas mais seguras de que a linguagem é um meio de lidar com o inexprimível e o insondável. Assim que se tor­nam compreensíveis em todos os níveis, os símbolos per­dem validade e eficácia. Pedir ao poeta que fale a linguagem do homem da rua é como esperar que o profeta esclareça seus vaticínios. Aquilo que nos fala de esferas superiores, mais distantes, vem envolto em segredo e mistério. O que é constantemente expandido e elaborado pela explicação - em suma, pelo mundo conceitual - está ao mesmo tempo sendo comprimido, sintetizado, pela caligrafia estenográfica dos símbolos. Nós nunca podemos explicar, a não ser em termos de novos enigmas. O que pertence ao domínio do espírito, ou do eterno, escapa a qualquer explicação. A linguagem do poeta é assintótica; corre paralela à voz in­terior quando essa se aproxima da eternidade do espírito. É através desse registro interior que o homem sem linguagem, por assim dizer, entra em comunicação com o poeta. Não se cogita aqui de educação verbal, mas de desenvolvimento espiritual. Nada deixa mais evidente a pureza de Rimbaud que esse diapasão intransigente que manteve em toda a sua obra. Ele é compreendido pelos tipos mais diversos e tam­bém se presta aos maiores equívocos. Seus imitadores po­dem ser detectados imediatamente. Nada tem em comum com a escola dos simbolistas. Nem com os surrealistas, pelo menos a meu ver. E pai de várias escolas, sem ter criado nenhuma. O atestado de seu gênio reside no uso extraordi­nário do símbolo. Simbologia moldada em sangue e angús­tia. Simultaneamente protesto e tergiversação da desoladora difusão de conhecimentos que ameaçava sufocar a fonte do espírito. E também janela que se abria para um mundo de relações infinitamente mais complexas para as quais a velha linguagem de signos não mais servia. 

[In A hora dos Assassinos (Um estudo sobre Rimbaud), Tradução de Milton Persson, Porto Alegre, L&PM Pocket, 2010, p. 46]


MURAT

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