quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Isabel Mendes Ferreira

sentei-me na folhagem deste dia sem muralhas, desfiei o pólen do teu abraço imaginário, decantei o sorriso como cerzideira dos ramos, fendas que são os dedos sobre a palavra a esvoaçar qual pétala que te colho do chão. e depois sobra-me um vulto, a ser ordem do afecto, desordem dos flancos fosfóricos, coisas incisas e indóceis onde o tempo se demora e eu me atraso a ser ressalva, como se chagall fosse mais lírico que onírico ou nervo estridente, é que no chão de hoje a rosa que era só pálpebra fez-se presença latejante. por isso esta mensagem ou apenas carta de narrar, andamento heterónimo de todas as pausas.

[In As Lágrimas Estão Todas Na Garganta do Mar, Lisboa: Arcádia, 2010, p. 389]


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