BRISA MARINHA
Triste carne, ai de mim! Já li os livros todos.
Fugir! Longe fugir! As aves sinto a modos
De ser ébrias de espuma entre o mistério e os céus!
Nada, nem os jardins
espelhados nos meus
Olhos, o coração retém quase afogado,
Ó noites! nem da lâmpada a ausente claridade
No branco do
papel que o vazio rejeita
E nem a jovem mãe que ao peito o filho aleita.
Hei-de partir! Veleiro a mastrear, tu, larga
As amarras, demanda outra
exótica plaga!
Um Tédio, desolado por esperanças cruéis,
Crê ainda nos lenços molhados dos adeus!
E talvez que esses mastros atraindo os presságios
Sejam dos
que o tufão verga sobre os naufrágios
Perdidos, já sem mastros, em estéreis
ilhéus...
Mas os marujos cantam, ouve, coração meu!
SANTA
À janela onde se recolhe
O sândalo velho e já
gasto
Da viola que muito outrora
Brilhara, com mandolina ou flauta,
Está a Santa pálida, que mostra
O livro velho desfolhado
Do Magnificat, outrora esparso,
na prece vesperal:
A essa vidraça de custódia
Que rasa uma harpa formada
Pelo
Anjo em seu noturno voo
Para a falange delicada
Do dedo que, sem o velho sândalo
Nem o velho
livro, ela estende
Sobre a instrumental plumagem,
Na música só do silêncio.
Sobre Stéphane Mallarmé
In Sthéphane Mallarmé - Poemas lidos por Fernando Pessoa, tradução e prefácio José Augusto Seabra, Lisboa, Assírio & Alvim, 1998, pp. 56-57.
Sobre Stéphane Mallarmé
In Sthéphane Mallarmé - Poemas lidos por Fernando Pessoa, tradução e prefácio José Augusto Seabra, Lisboa, Assírio & Alvim, 1998, pp. 56-57.
MATISSE |
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