domingo, 24 de novembro de 2013

Mariana Ianelli

FILHO PRÓDIGO
Um animal 
De grata obediência 
Fui criado.

Sempre os teus favores,
A tua pontualidade,
Minha pele macia
Sem rastro de batalha.

Pai, eu era fraco:
Teu amor me apequenava.

Ver à distância
Eu via apenas por metáfora.
Não me punha em risco,
Não sabia errar.

A mesa dos teus mandamentos 
Onde todos comiam,
Eu definhava.

Difícil partilha dos bens,
Ser o herdeiro
De tua audácia e desertar.

Perdido
Estranhei meu nome,
Fui jogador,

Do teu ouro fiz jorrar 
A noite alta.

Pai, eu descobri a fome.
No descampado sob o sol 
Amei e fui triste,
Me inventei como se inventam 
Os donos de uma história.

Mais difícil que partir
Eu volto, eu te devolvo
Meu rosto endurecido
Mediante um coração em liberdade.

E festejamos juntos 
E devoramos juntos 
A morte do novilho cevado.

In Treva Alvorada, São Paulo, Iluminuras, 2010, pp. 93-94


GIOVANNI FRANCESCO BARBIERI



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