domingo, 24 de novembro de 2013

Walmir Ayala

O Anjo
bíblia menor

Eram mansos os navios
e o anjo me incitava a percorrer seus quatro andares.

No térreo apalpo os pés onde as navegações se arvoram 
rompendo os periscópios; aí conquisto 
a ilha, solução de areia e cinza, 
e fundo a terra de nascer, chorar.

Depois sou projetado à paralela 
escada e seu degrau de sortilégio, 
e atinjo o coração onde o alvo estame 
do amor fecunda ao vento a unção secreta.

Daí rompo ao terceiro, onde a ciência 
ronda um véu de faróis pelos penhascos, 
e a figueira amamenta os filhos cegos: 
astros de seus sinais e resultantes.

Daí ao plano da coroa, almo terraço 
me incrustro e, visionário, me navego;
 invisto o guarda-pó e urdindo as pinças 
analiso o anjo elétrico de antenas; 
e uma atitude súbita me assalta: 
sou a um tempo jogral e teorema.

Possuo o anjo por definição e fuga, 
e por ter percorrido como mártir 
todos os rumos dados pelo vento.

In Antologia Poética, Rio de Janeiro, Ed. Leitura S.A., 1965, p. 53

Elias e o anjo
Godfrey Kneller

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