segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Rose Ausländer

Ainda estás aqui
Atira tua angústia
no ar

Num átimo
teu tempo passa
num átimo
o céu cresce
sob o gramado
caem teus sonhos
nenhures

Ainda
recende o cravo
canta o tordo
ainda tens o direito de amar
ofertar palavras
ainda estás aqui

Sê o que és
Oferece o que tens

Réptil
O tempo um réptil
me devorou

Não digerida eu fico
em seu corpo comprido
meio morta meio viva

Isso eu sonhei
quando dividi o cárcere
com José

Os dias magros jazem em
meu estômago

José está morto

Seu trigo armazenado
derrama-se
no Mar Morto

Os forasteiros
Trens trazem os forasteiros
que desembarcam
e olham atordoados
Nos seus olhos nadam
angustiados peixes
Eles portam narizes estranhos
tristes lábios

Ninguém veio apanhá-los.
Eles esperam pelo crepúsculo
que não faz qualquer diferença
então têm permissão
para visitar seus parentes
na Via-Láctea
nos vales da lua

Um toca gaita -
melodias incomuns.
Uma outra escala
mora no instrumento
uma inaudível seqüência
de solidões.

Fonte: Revista Piaui, Edição 37, Outubro de 2009.

Sobre Rose Ausländer

By Sebastião Salgado

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