terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Mariana Ianelli

O DIA FINAL
É véspera da passagem
do ano velho
e como os primos distantes
que se reconhecem
só nos dias de ceia
(mas calorosamente)
aqueles deveres vitais
de resolver as falhas
no amor e na moral,
por inteiro, reaparecem
(calorosamente)
prometendo a solução
que não há.
E como o peru grávido
de passas e de bom cheiro,
o peru da ceia
a que vão os primos,
chegam os projetos de hoje,
estelares,
na poesia, no suicídio,
e são tantos
que estão fora de pauta
em bombardeio
na mira da página branca
- é um salto ágil
para cima do muro
para as telhas de casa
para um rabo de nuvem
para os confins do céu
para além do mundo.
Esse ano terminando,
incandescemos:
como a chama de um dia
que treme até à tarde
e pousa rápida, grafite.

[In Trajetória de Antes (1999), pp. 73-74]




Nenhum comentário:

Fernando Paixão

  Os berros das ovelhas  de tão articulados quebram os motivos.   Um lençol de silêncio  cobre a tudo  e todos. Passam os homens velho...