OS SONÂMBULOS
Eles caminham nos telhados,
Nas balaustradas, nas varandas,
Dedos à frente,
olhos cerrados,
Beiram o vácuo dos dois lados
Sobre os beirais e as
platibandas.
Como ímãs ébrios seus sapatos
Burlam
a queda, e, no seu dia
Onde há um sol negro, chutam gatos
Ao ar, pisando os
pobres matos,
Mechas da velha alvenaria.
Não estão mortos nem são vivos,
Cruzam por urbes
de ninguém
Onde há milhões. Hirtos, esquivos,
Sabem,
idênticos e altivos,
O que é o real, e o certo e o bem.
Senhores da hora e da verdade,
Babam no abismo, engolem
moscas,
Marcham pela única cidade
Que existe, em glória e majestade,
Com as
reviradas íris foscas.
24.11.1998
[In Em Sonho, São Paulo, Record, 1999, p. 63]
BY GRACIELA BELLO |
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