Terra revolta: algumas plantas logo brotam ali.
Os cardos me vêm à mente.
Depois que você os arranca,
eles se esgueiram de novo sob o chão
e metem seus focinhos carnudos e espinhentos
onde você pretendia ver lírios.
A orelha-de-lebre faz isso. A beldroega. A ervilhaca roxa.
Marginais, cavando fossos,
flagrantes com sementes, disseminando
seus buquês de indigentes.
Por que você os rejeita,
a eles e às suas emaranhadas harmonias
e madrigais vulgares?
Porque frustram a sua vontade.
Sinto o mesmo com relação a eles:
cavo e desenterro,
piso em suas vagens e em seus caules,
decepo-os e os esmago. Ainda assim,
imagine que eu consiga retornar —
que opere uma transmutação, digamos —
uma vez tendo sido calcada com a pá?
Alguma estranha vegetação ou emboscada?
Não busque na orla de plantas perenes:
procure por mim na terra revolta.
[In A Porta, trad. Adriana Lisboa, Rio de Janeiro: Rocco, 2013, pp. 116]
By Anna Silivonchik |
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