quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Margaret Atwood

TERRA REVOLTA
Terra revolta: algumas plantas logo brotam ali.
Os cardos me vêm à mente.
Depois que você os arranca,
eles se esgueiram de novo sob o chão
e metem seus focinhos carnudos e espinhentos
onde você pretendia ver lírios.

A orelha-de-lebre faz isso. A beldroega. A ervilhaca roxa.
Marginais, cavando fossos,
flagrantes com sementes, disseminando
seus buquês de indigentes.

Por que você os rejeita,
a eles e às suas emaranhadas harmonias
e madrigais vulgares?
Porque frustram a sua vontade.

Sinto o mesmo com relação a eles:
cavo e desenterro,
piso em suas vagens e em seus caules,
decepo-os e os esmago. Ainda assim,

imagine que eu consiga retornar —
que opere uma transmutação, digamos —
uma vez tendo sido calcada com a pá?
Alguma estranha vegetação ou emboscada?

Não busque na orla de plantas perenes:
procure por mim na terra revolta.

[In A Porta, trad. Adriana Lisboa,  Rio de Janeiro: Rocco, 2013, pp. 116]


By Anna Silivonchik




Nenhum comentário:

Rosa Alice Branco

  A Árvore da Sombra A árvore da sombra tem as folhas nuas como a própria árvore ao meio-dia quando se finca à terra e espera co...