quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Antonio Fernando de Franceschi

ALGO
há algo feito e acabado
que desmente a teoria
algo livre das aduanas
que flota justo e medido
no lírio das cumeeiras
algo subtraído das ganas
que se preserva intocado
algo entre as unhas
pelo tecido lunar
que te desconcerta e redime
algo certo algo errado
como inteiro domicílio
uns restos no copo
e a ressaca que volta
algo que é também soberba
e te ilumina
algo que não pode ser recuperado
por simples razão
teus mitos
como um quarto fechado
algo vertido na lâmina
que por descuido a corrói
algo sem gume nem corte
mas cujo toque te dói

NÁUSEA
era uma colina sem centauros
(nem desejos)
uma colina sem delírios nem sextantes
onde o maduro tempo
(e a regular sangria)
era roupa lavada

era um martírio a jusante
sem galopes nem porfias
onde a regimental usura
punha excessivo rigor
sobre a vida mal passada

era culpa assestada
no olho aberto do ovo
que ardia chama incessante
sem áureo corte
(rasante)
quando a vontade era nada

(Fractais, 1990)

[In Poetas na Biblioteca - Antologia, São Paulo, Ed. Memorial, 2001, pp. 86-87]

Biografia de Antonio Fernando de Franceschi

By Georgi Petrov


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