Cristas de igrejas contra o azul
culpam-me de ter perdido a missa.
A beira-lago, o museu lembra
um iate grego extraviado.
De seu convés se descortina
o salão d’água onde dançam
velas bêbadas de brisa.
Embarco para o país da arte:
no exílio o girassol de Miró
instaura a primavera eterna
a corola coroa triunfante.
Rigaut Benoit, Hyppolyte, os Obin
exportam a alma do Haiti.
Um pintor de vanguarda concebe
bebês boiando no bojo de modernas
maternas telas televisivas.
O que contemplar?
Perco-me entre os labirintos do homem
e a escondida face do divino
transparecendo na pele do mar.
O sol desfalece e a neblina
que desce porfia por engolir
as áureas relíquias do dia.
[In Rês Desgarrada, In De déu em déu - poemas reunidos (1979-1994), Rio de Janeiro: Sette Letras, 1998, p. 348].
By Ryan Radke |
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