quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Ingeborg Bachmann

ESTRELAS DE MARÇO
Longe vem ainda a sementeira. Surgem 
os primeiros campos à chuva e estrelas de Março. 
O universo ajusta-se à fórmula 
de pensamentos estéreis, a exemplo 
da luz que não toca na neve.

Haverá também pó sob a neve 
e o que não se desfez servirá depois 
de alimento ao pó. Oh vento a erguer-se!
Arados rasgam de novo as trevas.
Os dias querem alongar-se.

Nos dias longos semeiam-nos sem nos perguntar 
naqueles sulcos tortos e direitos, 
e as estrelas retiram-se. Nos campos 
crescemos ou morremos ao Deus dará, 
obedientes à chuva e por fim também à luz.

[In O tempo aprazado, selecção, tradução e introdução Judite Berkemeier e João Barrento, Lisboa, Assírio & Alvim, 1992, p. 43]

By Edward Robert Hughes

Nenhum comentário:

Fernando Paixão

  Os berros das ovelhas  de tão articulados quebram os motivos.   Um lençol de silêncio  cobre a tudo  e todos. Passam os homens velho...