Garcia Lorca, irmão:
Sou eu, mais uma vez...
Venho negar à humana condição
A humana pequenez
Da ingratidão.
Venho e virei enquanto houver poesia,
Povo e sonho na Ibéria.
Venho e virei à tua romaria
Oferecer-te a miséria
Duma oração lusíada e sombria.
Venho, talefe branco da Nevada,
Filho novo de Espanha!
Venho, e não digas nada;
Deixa um pobre poeta da montanha
Trazer torgas à rosa de Granada!
Indomável cigano
Dos caminhos do tempo e da ventura,
Sensual e profano,
O teu génio floresce cada ano...
Venho ver-te crescer da sepultura!
Bruxo das trevas onde alguém te quis,
Nelas arde a paixão do que escreveste!
Sete palmos de terra, e nenhum diz
Que secou a raiz,
Que partiste ou morreste!
Uma luz que é o oceano da verdade
Abre-se onde os teus versos vão abrindo...
A eternidade,
Na pureza da sua claridade,
Sobre o teu nome, universal, caindo...
E o peregrino vem.
Reza devotamente,
Põe no altar o que tem,
E regressa mais livre e mais contente...
Assim faço, também!
[In Poemas Ibéricos, In Poesia Completa, Vol. I, Lisboa, Dom Quixote, 2007, pp. 292-293]
Joaquin Sorolla |
Nenhum comentário:
Postar um comentário