quinta-feira, 20 de março de 2014

Miguel Torga

FEDERICO GARCIA LORCA
Garcia Lorca, irmão:
Sou eu, mais uma vez...
Venho negar à humana condição
A humana pequenez
Da ingratidão.

Venho e virei enquanto houver poesia,
Povo e sonho na Ibéria.
Venho e virei à tua romaria
Oferecer-te a miséria
Duma oração lusíada e sombria.

Venho, talefe branco da Nevada,
Filho novo de Espanha!
Venho, e não digas nada;
Deixa um pobre poeta da montanha
Trazer torgas à rosa de Granada!

Indomável cigano
Dos caminhos do tempo e da ventura,
Sensual e profano,
O teu génio floresce cada ano...
Venho ver-te crescer da sepultura!

Bruxo das trevas onde alguém te quis,
Nelas arde a paixão do que escreveste!
Sete palmos de terra, e nenhum diz
Que secou a raiz,
Que partiste ou morreste!

Uma luz que é o oceano da verdade
Abre-se onde os teus versos vão abrindo...
A eternidade,
Na pureza da sua claridade,
Sobre o teu nome, universal, caindo...

E o peregrino vem.
Reza devotamente,
Põe no altar o que tem,
E regressa mais livre e mais contente...
Assim faço, também!

[In Poemas Ibéricos, In Poesia Completa, Vol. I, Lisboa, Dom Quixote, 2007, pp. 292-293]

Joaquin Sorolla



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