Inventor, teu próprio mito, Jorge, ordenas,
E este reino de fera e sombra.
Herdeiro de Orfeu, acrescentas a lira.
À mesa te sentaste com os cimeiros
Dante, Luís de Gongora, o Lusíada,
E Lautréamont, jovem sol negro
Que inaugura nosso tempo.
O roteiro traçando, usaste os mares.
A ilha tocas, e breve a configuras:
Ilha de realidade subjetiva
Onde a infância e o universo do mal
Abraçam-se, perdoados.
Tudo o que é do homem e terra te confina.
Inventor de novo corte e ritmo,
Sopras o poema de mil braços,
Fundas a realidade,
Fundas a energia.
Com a palavra gustativa,
A carga espiritual
E o signo plástico
Nomeias todo ente.
O frêmito e movimento do teu verso
Mantido pela forte e larga envergadura.
Poder da imagem que provoca a vida
E, respirando, manifesta
O mal do nosso tempo, em sangue exposto.
Aboliste as fronteiras da aparência:
No teu Livro, fértil se conjugam
Sono e vigília,
Vida e morte,
Sonho e ação.
Nutres a natureza que te nutre,
Mesmo as bacantes que te exaurem o peito.
Aplaca tua lira pedra e angústia:
Cantando clarificas
A substância de argila e estilhaços divinos
Que mal somos.
[In Poesia Completa e Prosa, Ed. Nova Aguilar: Rio de Janeiro, 1994, pp. 555-556].
Alexandre Seon |
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