Quebrou-se um jarro dentro de meu corpo
A terra fugiu pelos poros
A alma desfolhada ficou imponderável
Como um choro de agonia na madrugada
Esta é minha história
A qual sorte nenhuma ousou se interpor
Esta é a história que fiz
Com mãos, óticas e asas
A carne encontra-se em máxima vitalidade
Amanhã esta mesma se derreterá velozmente
Na vargem das almas que existem — ora, por que não?
E apesar de as negarmos nesta poética chupação de mangas
Esta é a única história que me cabia
A mais recente medida que não valia
Nada ou pouco antes que eu a mensurasse
Esta é a história de uma ação total
Montador de um presépio portentoso
de mastros, velas e destinos
Aquele que viveu em minhas entranhas
Vejo-o a mijar, mijar e mijar
E vai subindo o nível da urina de ouro...
Esta é uma história no fim
Faltando rodapés, corolários, o glossário
Ainda devo deixar de explicar porque vivi anos diários
E abandonei dias seculares
ao sabor dos umbrais inabitados
(Conspirações e inconfidências de um caçador de meninas gerais (1992))
[In Roteiro da Poesia Brasileira - anos 80, seleção e prefácio Ricardo Vieira Lima, São Paulo: Global, 2010, p. 132].
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