VI
Tua ausência é um líquido azulado que escorre pelas cavernas da imaginação. Um povo de gigantes sustenta os polos da memória, o cogumelo das nuvens prepara-se para a autodevoração, sístoles e diástoles ressoam pelos labirintos da vida. Catedrais começam a rolar pela encosta, e a cegueira dos pulmões nos leva a nada. Sem memória nos emaranhamos em fios de decadência.
Uma sinfonia sutil, soando a partir do meu pé esquerdo, leva-me à levitação. Nomear teu nome é romper o equilíbrio da balança: miríades de horticultores, enlouquecidos, passariam a dedicar-se à predação.
A consagração era prevista: chegará a hora das colisões. Meu infinito pessoal recolhe as imagens da mão do cadáver; pouca coisa nos resta: alguns espiões, um retângulo, a hesitação sem fronteiras. É preciso sair, o quanto antes, das campânulas que circundam o abismo.
Dias circulares (1976)
[In: Roteiro da Poesia Brasileira - anos 60, seleção e prefácio Pedro Lyra, São Paulo: Global, 2011, p. 106].
Sobre Cláudio Willer
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