Meu coração é um tempo triste,
Num tique-taque emudecido.
Minha mãe tinha asas douradas,
Que não encontravam mundo.
Ouçam, ela se pôs a minha procura,
Com seus dedos de luz e pés de sonho errante.
E o tempo bom que brisa azul
Sempre aquece meu sono
Nas noites,
Cujos dias usam a coroa de minha mãe.
Bebo da lua o vinho tranquilo,
Quando a noite cai só.
Minhas canções tinham do verão os azuis
E voltavam sombrias para casa.
De meu lábio vocês debochavam,
Mas ainda falam com ele.
Sim, tentei segurar suas mãos,
Pois meu amor é uma criança e quer brincar.
O primeiro, tomei-o de vocês,
E também o segundo, beijei-o,
Mas meus olhares se voltam para trás
Na direção de minha alma.
Tornei-me pobre
De seus favores mendicantes.
Ignorava o estar doente,
E agora estou doente de vocês,
E nada é mais furtivo que a doença,
Que da vida quebra os pés,
Rouba a luz ao caminho da cova
E difama a morte.
Meu olho
É o cume do tempo,
Seu brilho beija
As barras de Deus.
E ainda vou dizer mais,
Antes que entre nós escureça.
Se, entre todos, você for o mais jovem,
Saberá do que em mim é o mais antigo.
Os mundos todos brincarão
De agora em diante em tua alma.
E a noite vai se queixar
Ao dia.
Sou o hieróglifo
Sob toda criação.
E saí a vocês,
Em causa da saudade por causa do humano.
Arranquei de meus olhos os evos do olhar,
De meus lábios, a luz vitoriosa —
Pense num prisioneiro mais difícil,
Num mago mais malvado: eis-me aqui.
Meus braços, na querença de se erguer,
Tombam...
[Tradução de Mauricio Mendonça Cardozo, In Belas Infiéis, Revista do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução da Universidade Nacional de Brasília, v. 1, n. 1, p. 203-209, 2012].
Henry Fuselli |
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