quarta-feira, 7 de maio de 2014

Eloy Sánchez Rosillo

O VIAJANTE
Às vezes me pergunto o que teria sido de mim
sem as recordações que tão diligentemente guardo:
aquele beco que cheirava a madeira e fruta
num bairro úmido de Paris,
as árvores dormindo ao sol
numa antiga praça de Florença,
o órgão que vibrava na catedral de Orvieto
num amanhecer distante,
o barulho da chuva na janela
de um quarto no qual sofri,
os olhos escuros que me miraram
num crepúsculo de nem sei mais onde...

Quando a urgência dos trabalhos cotidianos
traspassa meus ossos e me impede
de respirar com amor os espessos odores,
frios, sem luz, como de hábito,
fecho os olhos, retorno lentamente
às terras que percorri em outro tempo,
aos lugares em que o olvido não impôs seu silêncio.
Acaricio os dias passados,
as horas que brilham na distância
como cidades reclinadas à beira da noite.

E penso com tristeza como era bonito andar tantos
[caminhos,
mas você  sabe que só posso pisá-los
com o pobre suporte da memória. 




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