segunda-feira, 5 de maio de 2014

Marianne Moore

O ARGONAUTA
   Para a autoridade com esperanças
que o mercenário é que concebe?
   O escritor seduzido pela
   fama do chá das cinco e pelo
conforto do trabalhador? Para eles não é que
   a fêmea do argonauta
   faz fina concha de vidro.

   Oferecendo o perecedouro
suvenir de esperança, o exterior
   de branco fosco e a superfície
   interna de bordas macias
acetinada como o oceano, a fazedora
   vigilante dela toma
   conta dia e noite; quase

   não come antes de chocar os ovos.
Em seus oito braços sepultada
   oito vezes, porque é num certo
   sentido uma espécie de polvo,
a carga de vidro velino-ovino embalada
   está oculta, não moída;
tal como Hércules, unhado

   por caranguejo leal à hidra,
teve êxito por tenacidade,
   os ovos intensivamente
   vigiados que saem da
concha a libertam ao ganharem liberdade —
   deixando o vespeiro de eivas
   de branco no branco e as dobras

   jônicas estreitas de quitão
iguais àquelas linhas na crina
   de um cavalo do Pártenon,
   em torno às quais os braços se
feriram, como se soubessem que a única
   fortaleza em cuja força
   se confia é o amor.

[In Poemas, seleção João Moura Jr.; tradução e posfácio José Antonio Arantes. São Paulo, Companhia das Letras, 1991, pp. 113-115].


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