Para a autoridade com esperanças
que o mercenário é que concebe?
O escritor seduzido pela
fama do chá das cinco e pelo
conforto do trabalhador? Para eles não é que
a fêmea do argonauta
faz fina concha de vidro.
Oferecendo o perecedouro
suvenir de esperança, o exterior
de branco fosco e a superfície
interna de bordas macias
acetinada como o oceano, a fazedora
vigilante dela toma
conta dia e noite; quase
não come antes de chocar os ovos.
Em seus oito braços sepultada
oito vezes, porque é num certo
sentido uma espécie de polvo,
a carga de vidro velino-ovino embalada
está oculta, não moída;
tal como Hércules, unhado
por caranguejo leal à hidra,
teve êxito por tenacidade,
os ovos intensivamente
vigiados que saem da
concha a libertam ao ganharem liberdade —
deixando o vespeiro de eivas
de branco no branco e as dobras
jônicas estreitas de quitão
iguais àquelas linhas na crina
de um cavalo do Pártenon,
em torno às quais os braços se
feriram, como se soubessem que a única
fortaleza em cuja força
se confia é o amor.
[In Poemas, seleção João Moura Jr.; tradução e posfácio José Antonio Arantes. São Paulo, Companhia das Letras, 1991, pp. 113-115].
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