quinta-feira, 15 de maio de 2014

Nelly Sachs

Preparam-se as camas para as dores
O linho é a sua confidente
Lutam com o arcanjo
que nunca abandona a sua invisibilidade
Hálito carregado de pedra busca vias novas para o
campo aberto
mas a estrela crucificada
cai sempre de novo como fruta no chão
sobre o seu sudário —

[In Poesias, Tradução de Paulo Quintela, Estudo introdutivo de Joseph Bernfeld, Ilustrações de Jean-Michel Perche, Rio de Janeiro, Ed. Opera Mundi, 1975, p. 209].

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Quantos mares perdidos na areia,
quanta areia dura de orações na pedra,
quanto tempo chorado na corneta
dos búzios,
quanto abandono de morte
nos olhos de pérola dos peixes,
quantas trombetas matinais no coral,
quantos padrões de estrelas no cristal,
quantos germes de riso na garganta da gaivota,
quantos fios de nostalgia
fiados nas órbitas noturnas dos astros,
quanta terra fecunda
para a raiz desta palavra:
Tu -
atrás de todas as grades em ruínas
dos mistérios
Tu -

Ibidem

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Só no sono têm estrelas corações
e bocas.
Arfar de fluxo e refluxo
exercita co’as almas
o último preparativo.
E os penedos, que das águas emergem,
os pesados rostos de pesadelo,
são mesmo baleias ardentes
traspassadas pela alavanca da saudade —
Como porém há de haver amor
no fim das noites,
com os astros tornados transparentes?
Pois minério já não pode ser minério
onde os bem-aventurados estão —

Ibidem

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