quarta-feira, 18 de junho de 2014

Rainer Maria Rilke

OS CADERNOS DE MALTE LAURIDS BRIGGE - EXCERTO

Às vezes passo diante de pequenas lojas na Rue de Seine, por exemplo. Negociantes de coisas velhas ou pequenos alfarrabistas ou vendedores de gravuras em cobre com vitrines abarrotadas. Jamais alguém entra em seus estabelecimentos; é manifesto que não fazem negócios. Quando olhamos para dentro, porém, eles estão sentados, estão sentados e leem sem preocupações; não se preocupam com o amanhã, não se inquietam com o sucesso, têm um cão, que fica sentado diante deles, bem-disposto, ou um gato que toma o silêncio ainda maior ao passar pelas fileiras de livros como se apagasse os nomes das lombadas.

Ah, se isso bastasse: às vezes, gostaria de comprar uma dessas vitrines repletas e me sentar atrás dela com um cão durante vinte anos.

É bom dizer em voz alta: “Não aconteceu nada”. Mais uma vez: “Não aconteceu nada”. Isso ajuda?

[In Os cadernos de Malte Laurids Brigge, tradução e notas de Renato Zwick, Porto Alegre, L&PM, 2010, pp. 33-37]. 


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