segunda-feira, 9 de junho de 2014

Rogério Luz

POEMAS SELECIONADOS
FRANCIS BACON
Está todo ser vivo
tingido pelo fim. Uma pintura
vermelha no tecido
de momentos obscuros
envolve esta ferida que não cura.

MINOTAURO
Perdeu-se o Minotauro
no próprio labirinto. Agora erra
divino e sanguinário
pelos muros de Creta
na fúria sem caminhos desta Terra.

MNEMOSINE
O que passou perdura
em algum tempo, lugar ou sentimento
ou morreu à procura
de mais esquecimento
do que permite a humana desventura?
na fúria sem caminhos desta Terra.

AGOSTINHO
Jamais cidade alguma
extinguirá, sedentária, tua fome:
as cidades (as duas,
a de deus e a dos homens)
pouso não te darão, pois não tens nome.

CONRAD
l.
O limite de sombra.

Obrigado a abrigar
o inimigo mortal dentro do peito
na luta desigual o destino antevês
de um ser que ser mortal o fez perfeito.

II.
Água parada, o rio
move o dorso do ar rumo ao obscuro
abismo sem destino.
A treva não tem rumo
e o próprio sangue flui sob este luto.

[In Suplemento Literário de Minas Gerais, Belo Horizonte, Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, edição 1.353, p. 15]

Rogerio Luz (Rio de Janeiro, 1936), poeta, artista plástico e ensaísta, com trabalhos publicados nas áreas de estética, psicanálise e crítica de arte, foi professor universitário na UFPb, UFF, UFRJ e UERJ. Publicou, além de poemas em revistas e coletâneas, os seguintes livros de poesia: Diverso entre contrários (Rio: Contra Capa, 2004), Correio Sentimental (S.Paulo: Giz Editorial, 2006) e Escritas (Goiânia: Editora UFG, 2011).


Nenhum comentário:

Fernando Paixão

  Os berros das ovelhas  de tão articulados quebram os motivos.   Um lençol de silêncio  cobre a tudo  e todos. Passam os homens velho...