Em negro
teceram-me a pele
enormes correntes
amarram-me ao tronco
de uma nova África.
Carrego comigo
a sombra de longos muros
tentando impedir
que meus pés
cheguem ao final
dos caminhos.
Mas o meu sangue
está cada vez mais forte,
tão forte quanto as imensas pedras
que os meus avós carregaram
para edificar os palácios dos reis.
(In ANTOLOGIA DA NOVA POESIA BRASILEIRA, Organização, seleção, notas e apresentação de Olga Savary, Rio de Janeiro, Fundação Rio/Hipocampo, 1992, p. 1)
[O poeta Adão Ventura nasceu em Santo Antonio do Itambé, Minas Gerais, em 1946. Formado em Direito pela UFMG, escreveu "Abrir-se um abutre ou mesmo depois de deduzir dele o azul" (1970), "As musculaturas do Arco do Triunfo" (1976), "A Cor da Pele" (1981), "Jequitinhonha - Poemas do Vale" (1980), "Texturaafro" (1992) e "Litanias de Cão" (2002). Foi professor de Literatura Brasileira na University of New Mexico na década de 70. Morreu em junho de 2004].
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