O anjo terrível não me legou lira alguma,
nem fui sagrado profeta.
Eu era tímido. E as torrentes de minha música
jorraram de outra fonte.
A guerra... Eu estava deitado, doente, no meio da planície,
e o espesso casaco de neve pesava sobre os meus ombros.
Foi aí que, subindo-me à garganta, um soluço
anunciou, de repente, a palavra.
Eu já não esperava mais o chamado do Criador
e todo o vigor me abandonara.
De repente, o sangue,
fugindo-me do rosto, afluiu-me ao coração.
E encheu-se de sangue a trincheira
com o som de meu lamento noturno,
vão, é verdade, mas perturbador,
pois exasperado por uma angústia pura.
E - reconheço-o - o anjo terrível,
que nos aponta a meta com sua espada de fogo,
eclipsou-se
ao ver que, exausto, só me restava um sopro.
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Quando colhi o fruto proibido
na árvore do saber, Adão,
não sabia como o meu castigo
seria pesado. Fui punida
por ter ultrapassado
a barreira do orgulho. Nada
disso teria importância se não fosse
esse gosto de maçã que ainda tenho na boca.
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Poeta Russo, nascido em Leningrado, em 1925. Faleceu em 1993
[In Poesia Soviética, seleção, tradução e notas de Lauro Machado Coelho, São Paulo, Algol, 2007, pp. 220-221]
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