das manhãs de outono, que do sono se me
erguem sensações do infinito. acredito em
o princípio das folhas escritas ao longo das
estações, que desmaiam perante a vertigem
da queda ao parapeito da janela. oiço-lhes
a caligrafia dos pássaros e desvendo-lhe os
mistérios das árvores. sinto o devir da raiz
no ventre da terra e sou perfusão do musgo
à textura da casca. dura um sopro de vida
aquela cicatriz aberta para a criança que fui
algures num berço alheio, origem deste ser
precipício.
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a lonjura das estrelas silencia
o retinir dos sinos
amparas o pêndulo do tempo
entre as tuas mãos
a cidade baloiça no compasso maior
que as madeixas dos teus cabelos edificam
há pomares de laranjeiras
nas terras férteis do teu peito
e gomos a desfazerem-se
na carne dos teus lábios
por dentro dos teus olhos
o tempo permanece etéreo.
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caríssimos poetas
é com imenso pesar
que vos comunico
uma enorme tragédia
os versos padecem de míldio
uma praga vinda
sabe-se lá donde
abateu-se
sobre cada sílaba
os versos padecem de míldio
e agora o poema
interrogais vós
meus caros
fazedores de rimas
os versos padecem de míldio
esperai e bebei
a baco
que não falte
o tabaco.
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um pássaro nocturno
a tua casa de luz
como uma árvore
as folhas janelas entreabertas
e os ramos parapeito
a que poiso enamorado
estremeço e permaneço
voo por dentro
e detenho-me
como só os que se abraçam
se detêm
no espaço a que o amor
tem lugar.
Publicados com permissão do autor.
By Lucien Freud
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