Estava, ele, na minha frente —
ao alcance de alguns passos —
sentado no asfalto negro daquela pequena rua sem
[saída,
envolvido pela escuridão da noite.
Um gato negro.
Seus olhos verde-amarelados brilhavam,
atraindo minha atenção.
Meu olhar fixo naqueles olhos
que pareciam me olhar.
O gato — negro —
no asfalto - negro -
na noite - negra —;
e seus olhos brilhando
soltos na escuridão.
Criou-se mistério.
O mistério...
Porém, agora sei,
o mistério não estava naqueles olhos,
nem na noite que os cercava;
mas em mim,
em meus olhos que viam mistério.
[Dimensão da transparência (1986)]
Marco Antonio Poço - Nasceu no Rio de Janeiro, em 1961. Formado em Filosofia e Ciências Humanas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, foi professor universitário. Autor de histórias infantis, participou da antologia O conto e o dono do conto (1987, organização de Heli Samuel e Hélio Moraes). Faleceu no Rio de Janeiro, em 1990. Obra poética: Dimensão da transparência (1986).
[In: Roteiro da Poesia Brasileira - anos 80, Seleção e Prefácio Ricardo Vieira Lima, São Paulo: Global, 2010, p. 194].
JOHN BRENT |
Nenhum comentário:
Postar um comentário