A mim,
A me acompanhar
Desde o céu profundo,
A poeira do sol, das estrelas e
O vento a instilar o espírito do tempo
Pela vida inteira.
A ti,
A semente
Passada de geração em geração,
O vale fértil e irrigado.
No umbral do portão da casa,
Com os pés nus,
Piso o caminho de pedra sobre a grama
Banhado em suave claridade.
Toda a escuridão desapareceu.
As plantas e as flores se multiplicaram
E há quem as guarde.
Tudo frutificou
No jardim guarnecido por pequenos seixos.
******
AS CHAVES DA CASA
A quem poderei entregar
As chaves de casa,
Revestidas por ternas palavras
Que inundam o coração?
Na passagem deste símbolo precioso
Os cantos serão de imenso júbilo
E algum tormento,
As récitas abarcarão a vida completa.
Quem me dará a Palavra
Antes que se apague a memória?
Meu quintal foi sempre
Frondoso em árvores frutíferas.
Nunca precisei cuidá-lo.
A quem entregarei
As chaves da casa
Tão cálida e arejada
Com pomares ao sul
E majestosas montanhas à frente?
Quem virá até mim
Receber uma chave
Respingada de lágrimas e saudades?
Tão ensolarados estavam os dias,
e o meu peito explodia em tantos espasmos
de dor e saudade,
que estava certa de haver morrido.
Mas, sabes bem
que aqui ainda estou
em estado de absoluta confusão:
estamos no inverno ou no verão?
vivemos o presente ou apenas planejamos o futuro?
Pode-se dizer que, na verdade,
nunca me ausentei nem por um instante
porque uma densa cortina de lágrimas
inunda constantemente a passagem
e eu tenho medo de me afogar na travessia.
E também,
por vocação,
a esperança foi sempre essa coisa imensa
dentro de mim.
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