O muro não me libertará
(sei porque sou tempo)
Conhecendo também
suas entranhas, armadilhas
saliências e entraves
eu o escalo
até o alto
onde ameias são faces tantas
e arranham ou assaltam
a vida
Lá, debruço-me
pendo, estico-me
jogo as mãos
a pele
e mesmo que não encontre
matéria de igual trama
ainda tenho
céu, vento, ar
ou desejo e dúvida e ilusão
Este (é um murmúrio)
o meu plano de voo
ramo de salvação
Sim, no relume das horas
arranco uma ou outra
de suas plumas e
do cimo
sinto
o doce estrépito
de um corpo
que arde e responde
sob o meu.
HALO
Para Maria de Assis Calsing
Essa casa não tem janelas
não tem portas, paredes
A solidez rejeita a ameaça
mas não pesa sobre a água
Translúcido é o nome solto no ar
no perfume, nas açucenas
Leve e diáfana casa
aninha o que flutua, o que não cai
tudo nela germina e enflora
abriga sim e a tudo afirma
E nela, clara casa, não há não
caminhos se abrem
e sopram à cálida folhagem
a brisa, a carícia do lago
Sobre ela, firme e branda casa,
palavras brincam com a luz
são imagens que a alma canta
(e eu digo: alada mão as deixou).
MARGHE(RITA)
Não
valem os dias
além
dos corações
que
neles batem
São
caminhos
Essa
única vista
me
verte o sim
Você
fala por ela
e
repete as imagens
A
porta que abre
verdeja
e
floresce
para
dentro do corpo
história
maior
do
que antigas lembranças
Do
teu nome,
margaridas
nascem sobre a lava.
[In Incompleto Movimento, Rio de Janeiro: José Olympio, 2011, pp. 24-25, 33, 64]
Nenhum comentário:
Postar um comentário