ANÁFORA In memoriam de Marjorie Carr Stevens |
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Cada dia, cerimonioso,
começa com pássaros, e fábricas
a apitar, estrepitosas;
diante de céus aurialvos
tão claros nossos olhos se abrem,
e por um instante perguntamos:
começa com pássaros, e fábricas
a apitar, estrepitosas;
diante de céus aurialvos
tão claros nossos olhos se abrem,
e por um instante perguntamos:
“De onde esta força, esta melodia?
Para qual inefável criatura
que não vimos, foi feito este dia?”
Logo, logo ela surge, e assume
sua natureza terrena
e cai vítima da intriga,
sob o ônus da memória,
da mortal, mortal fadiga.
Para qual inefável criatura
que não vimos, foi feito este dia?”
Logo, logo ela surge, e assume
sua natureza terrena
e cai vítima da intriga,
sob o ônus da memória,
da mortal, mortal fadiga.
Mais lentamente,
aparecem
os rostos sarapintados,
condensam sua luz, e a escurecem;
apesar de tantos sonhos
gastos nela em tal olhar,
atura nosso uso e abuso,
mergulha no fluxo de corpos,
mergulha no fluxo de classes
até chegar ao mendigo exausto
sem livro, sem luz, no lusco-fusco,
imerso em estupendos estudos:
este incandescente evento
de cada dia em constante
constante consentimento.
os rostos sarapintados,
condensam sua luz, e a escurecem;
apesar de tantos sonhos
gastos nela em tal olhar,
atura nosso uso e abuso,
mergulha no fluxo de corpos,
mergulha no fluxo de classes
até chegar ao mendigo exausto
sem livro, sem luz, no lusco-fusco,
imerso em estupendos estudos:
este incandescente evento
de cada dia em constante
constante consentimento.
[In Poemas Escolhidos de Elizabeth Bishop, Seleção, tradução e textos introdutórios de Paulo Henriques Britto, São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 161]
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