trago um menino no peito
e os dedos cobertos de musgo
vêm adorá-lo
tocam-lhe a melodia dos anjos
sobre a cicatriz exposta
lateja mais forte
que as baladas que o anunciam
o pai é-o sem ter sido filho
e a mãe cose-lhe botões e botões
de flores
trago um menino no peito
rebenta-lhe o choro de ver a luz
do parto todos os dias
os dedos cobertos de musgo
peregrinos do rosto
submerso em um líquido
de matéria interestelar
a casa compreende-se entre
paredes de silêncio e águas-furtadas
a céu aberto
trago um menino no peito
e os dedos cobertos de musgo
arranham uma fome
e um frio de deslumbre
há-de cumprir-se pela gotícula
do orvalho sobre o jarro
aberto.
(Poema reproduzido com autorização do autor)
Ilustração: Rogier van der Weyden (1400-1464), São Lucas desenha a Virgem, têmpera, no Museu de Belas Artes de Boston.
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