domingo, 28 de dezembro de 2014

Paul Auster

SOMBRA A SOMBRA
Contra a fachada do crepúsculo:
sombras, fogo e silêncio.
Nem mesmo o silêncio, mas seu fogo
a sombra
que projeta uma respiração.

Por penetrar o silêncio deste muro,
tenho de me deixar para trás.

PROVENCE: EQUINÓCIO
Clara-noite: o osso e o alento
transparentes. Essa jornada
de céu ofertado
para o centro do céu
que habitamos — uma montanha
no ar que desmorona.

Tu, só
dorme-te no fundo
deste ponto,
terra natimorta, como se pudesses sonhar
tão longe
por me dizer da densa, relameada semente
que arde em nós,
e acalmar a lenta, vernal agonia
que lida
no longo processo de arrancar pela raiz
as estrelas.

[Fonte: Todos os poemas, Tradução e prefácio de Caetano W. Galindo, São Paulo, Companhia das Letras, 2004, pp. 163-165].

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